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Individualidade & Individualismo

  • Foto do escritor: Tiago Caloto
    Tiago Caloto
  • 2 de jan. de 2024
  • 2 min de leitura

pessoa na janela de um prédio

"Quanto menor a individualidade, tanto maior o individualismo".


Adorno & Horkheimer, Indivíduo (1956).



A individualidade pressupõe um encontro com o mundo. Ela será tanto mais rica quanto mais profundo for esse encontro. A experiência com a realidade e com o outro define para o indivíduo as fronteiras de seu próprio Eu, ao mesmo tempo em que amplia sua consciência acerca daquilo que está para além dele.


Isso quer dizer que as relações do sujeito com o mundo e seus objetos ocasionam para ele um desprendimento de si mesmo, na medida em que o encontro com as diferenças o desloca constantemente das concepções que cria acerca do real.


O encontro com a pluralidade e a diversidade fornece ao indivíduo conteúdos e aparatos simbólicos que o munem de uma maior capacidade de representação dos fenômenos que o englobam. Com esse material, a dimensão do estranho e do imprevisível se torna mais fácil de ser codificada.


Nesse sentido, as relações, quando diversificadas, retiram o indivíduo de sua posição narcísica e o tornam capaz de considerar e aceitar a existência daquilo que não pode se reduzir a ele mesmo. Nasce, assim, na vida psíquica, a consciência da alteridade.


O individualismo, por sua vez, pressupõe relações pobres e superficiais com o mundo. Quando isso acontece, a diferença não se instaura em toda a sua potência e, portanto, não é capaz de deslocar o indivíduo de seu próprio enclausuramento narcísico.


Não conseguindo reconhecer nada para além de sua própria imagem, o mundo interior desse sujeito será raso e tudo o que confronta as suas ideias preconcebidas será tomado como ameaçador para a sua frágil constituição psíquica. Logo, a dimensão da alteridade é excluída. Nasce daí a indiferença, a intolerância, o egoísmo.


Para Adorno e Horkheimer, esse é um problema político.


A partir de um regime de poder, a cultura tende a produzir subjetividades padronizadas. Para nos moldar de acordo com o seu estreito programa de dominação, impede-nos o acesso a todo um campo fecundo de experiências possíveis.


O medo do que foge ao normativo é difundido como mecanismo de controle sociopsicológico e o outro é sempre representado como um adversário em nossa luta pela sobrevivência.


Não é por acaso, então, que nos sobre muito mais individualismo que individualidade.

 
 

Tiago Carvalho Psicólogo Clínico - CRP 06/198383

(34) 9 9231 7846

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